Um grupo de alunos de cinema da Universidade da Beira Interior, na Covilhã, decidiu dar o protagonismo a pessoas com deficiência mental no projeto de fim de curso.
"Síndrome de Cinema" é um filme dentro de outro filme, explicou à agência Lusa o aluno e realizador Henrique Cannavial.
Entre 20 a 30 utentes da delegação da Covilhã da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) vão ser atores, produtores e realizadores de uma fita que será projetada dentro de algumas semanas.
A estreia está marcada para a sala de cinema da universidade, numa gala em que cada um dos participantes vai receber um prémio - tal como as estrelas de cinema recebem os Óscares.
Todo o processo será orientado e filmado pelos alunos de cinema, resultando numa curta-metragem que será avaliada como projeto de final de curso, mas que «representa muito mais», descreve Henrique Cannavial.
Os finalistas querem «fazer um projecto social, para dar algo à Covilhã», como forma de retribuir os três anos de hospitalidade de que já beneficiaram, referiu o realizador, natural da ilha da Madeira. «Sempre fui bem recebido aqui», sublinhou.
Um dia, escutou a história de um dos colegas que teve uma irmã com Síndrome de Down.
Pouco tempo depois, o projeto estava a ser apresentado à APPACDM da Covilhã, que procurava atividades na área da expressão dramática.
«Foi uma ideia que nos cativou e que nos pareceu enriquecedora para os clientes: eles estão curiosos e motivados», refere Carina Correia, psicóloga na instituição.
Os alunos estão a conduzir sessões de trabalho em que apresentam o equipamento e os processos de produção e em que tentam chegar a um consenso sobre o filme que vão fazer.
«Uns gostam do 007, outros de comédia», descreve Henrique.
Mesmo que não haja consenso, «a curta-metragem será uma homenagem a vários filmes», com gravações nas instalações da APPACDM e nos estúdios da universidade.
«Não estamos muito preocupados com o nosso filme, mas sim com o filme deles: esse é o principal», sublinha o realizador.
Trabalhar com quem tem deficiência mental «é completamente diferente do habitual», pela positiva, destaca: «não têm ciúmes, invejas ou preconceitos e o mais forte protege o mais fraco. É a sociedade perfeita», conclui.
No meio do grupo, muito animado, Silvie Matos, uma das clientes da instituição, não esconde o desejo: «gostava de entrar num filme».
Por isso, fazer parte de uma equipa de cinema «é espectacular», refere.
A poucos minutos de começar mais uma sessão de trabalho com os alunos da UBI a azáfama é grande para preparar a sala de reuniões e o equipamento que por ali vai circular.
Se dependesse de João Tiago, outro dos participantes, não havia dúvida sobre o enredo: seria um filme do 007 em que ele próprio entraria, nem que fosse para «ser figurante» e concretizar um sonho.
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