quinta-feira, 4 de abril de 2013

Cinemateca recorda cinema militante do pós-25 de Abril


O cinema militante, feito por cooperativas de realizadores, que esteve proibido ou registou os primeiros anos de liberdade em Portugal integra um ciclo que a Cinemateca exibirá ao longo de Abril em Lisboa.
São quase 30 sessões com cinema feito "num período de grande efervescência", por colectivos de realizadores que surgiram na época ou intensificaram a produção, "para responder directamente às questões levantadas pela rapidez dos acontecimentos", explica a Cinemateca na programação.
O ciclo inclui algumas estreias, como as que acontecem hoje com ‘A luta do povo - a alfabetização em Santa Catarina’, curta-metragem feita em 1976 pelo Grupo Zero, sobre cursos para adultos numa aldeia alentejana, e ‘Pela razão que têm!’ (1976), de José Nascimento, com camponeses a reconstituirem uma ocupação de terras ocorrida no ano anterior.
Do colectivo Grupo Zero, do qual fizeram parte Solveig Nordlund, Alberto Seixas Santos ou Joaquim Furtado, serão ainda exibidos ‘A lei da terra’ (1977), sobre o processo da reforma agrária e ‘Assim começa uma cooperativa’ (1977), sobre agricultores de Barcouço.
Muitos dos filmes escolhidos reflectem testemunhos de trabalhadores, operários, camponeses, durante o PREC (Período Revolucionário em Curso), movimento social e político de esquerda, nos meses que seguiram à revolução de Abril de 1974.
Entre os grupos colectivos de realizadores mais activos estavam a Cinequanon e a Cinequipa, que assinaram vários filmes e séries para a RTP, com um cunho documental e militante, sublinha a Cinemateca.
‘O caso Sogantal’, de 1975, realizado por João Matos Silva, mas creditado à cooperativa Cinequipa, e que será exibido na sexta-feira, acompanha o processo de luta de quase 50 trabalhadoras de uma fábrica têxtil que reivindicavam salário mínimo e um mês de férias.
No dia 12, passará ‘Greve na construção civil’, da cooperativa Cinequanon, filme que integrou uma série televisiva sobre as greves e movimentações de rua em 1975, que incluiu o sequestro do primeiro-ministro do VI Governo Provisório, Pinheiro de Azevedo, em São Bento.
A estes filmes juntam-se ainda ‘Trás-os-Montes’ (1976), de António Reis e Margarida Cordeiro, uma das obras saídas do Centro Português de Cinema, cooperativa fundada em 1969, associada ao movimento do Cinema Novo nacional.
Destaque ainda para a exibição, no dia 30 de Abril, da curta-metragem ‘Revolução’ (1975), da poetisa e artista visual Ana Hatherly, com imagens raras dos acontecimentos de 25 de Abril de 1974.
A programação incluirá ainda filmes que estiveram proibidos, censurados ou que chegaram oficialmente às salas de cinema depois da revolução, como ‘Hiroshima meu amor’ (1959), de Alain Resnais, exibido em Lisboa a 25 de Abril de 1974, e ‘O couraçado de Potemkine’ (1925), de Sergei Eisenstein, estreado a 19 de Maio do mesmo ano.

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