O auditório da Biblioteca Municipal da Feira acolhe a partir de domingo o Festival de Cinema Luso-Brasileiro, que garante fazer nesta 16ª edição «a maior aposta de sempre em cinema de autor», precisamente quando este vive «uma crise absurda».
Américo Santos é o diretor do certame e, recordando que esse sempre privilegiou «primeiras e segundas obras dos novos valores do cinema português e brasileiro, por serem precisamente os realizadores mais jovens os que investem numa linguagem mais ousada», declarou agora à Lusa: «Numa altura em que o cinema de autor está a enfrentar uma crise absurda, vamos fazer a maior aposta de sempre em programas monográficos».
Os cineastas escolhidos para o efeito são seis: Joel Pizzini, o brasileiro escolhido para «Realizador em Foco», Gabriel Mascaro, que preenche a rubrica Docs, João Salaviza, o português que, premiado em 2009 com a Palma de Ouro em Cannes, se apresentará na Feira «em debate» com a crítica e com profissionais, e depois, nas sessões «Sangue Novo», os portugueses André Gil Mata e Sérgio Cruz, autores respetivamente de «O Coveiro» e «Outside», e ainda o brasileiro Leonardo Mouramateus, que assina «Mauro em Caena».
Américo Santos defende que cada vez são menos percetíveis as diferenças de linguagem entre a cinematografia de Portugal e a do Brasil, «sobretudo por via da internacionalização dos filmes, que vem possibilitando aos cineastas mais contactos entre si», mas considera que 2012 foi um ano mais favorável à produção lusa do que à que do outro lado do Atlântico.
«Este ano foi bom em termos internacionais para o cinema português e não foi tão positivo para o Brasil, que não teve nenhuma obra nos principais festivais de internacionais, isto é, em Cannes, Berlim e Veneza», explica. «E a verdade também é que, apesar de os brasileiros terem uma produção muito maior, nós, com menos, conseguimos fazer mais».
A afirmação poderá, contudo, deixar de ter validade a partir de 2013. Na generalidade, «as candidaturas aumentaram bastante» e, entre as cerca de 500 propostas para a presente edição, a crescente qualidade dessas obras faz-se refletir nas 28 curtas e seis longas selecionadas para competição, mas Américo Santos alerta: «Só este ano é que não houve apoios do Instituto do Cinema e Audiovisual, portanto os efeitos da crise na produção nacional só se vão fazer sentir em 2013 ou 2014».
Entretanto, o programa do festival faz-se em 2012 com a exibição não apenas das 34 obras a concurso, mas também de outros 26 filmes enquadrados em programas paralelos específicos.
As estreias nacionais, por sua vez, serão quatro: «O Coveiro», uma curta de 14 minutos que André Gil Mata demorou nove anos a fazer, pela exigência da combinação entre imagem real e animação; «Frineia», o filme em que a brasileira Aline Portugal faz referência à cortesã da Antiga Grécia que, também conhecida como Mnesarete ou Prhyne, terá servido de modelo a vários artistas ao longo dos séculos; «Púrpura», uma ficção de Tavinho Teixeira sobre a família; e «Mar de Fogo», em que Joel Pizzini aborda a obra do cineasta Mário Peixoto.
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